top of page

Web documentários: formas audiovisuais adaptadas à pandemia


As séries Travessia: a COVID 19 e os movimentos sociais populares e Direitos Humanos e Saúde no Brasil em 2020 (ilustrações à esquerda), totalmente realizadas em remoto, através da Internet, são formas de web documentários que adaptam a produção audiovisual às necessidades sanitárias de distanciamento e às novas condições tecnológicas de produção de imagens, cujos métodos são descritos no artigo.


A apresentação ao SOCINE é sobre mudanças nas formas de produção audiovisual a partir da virtualização das comunicações dada pelas novas possiblidades tecnológicas e exigidas pelo distanciamento social na pandemia. O texto descreve duas produções realizadas que estou chamando de web documentários, pois são documentários produzidos totalmente através da internet e em remoto, tanto da equipe entre si como em relação aos protagonistas das narrativas..

As séries são Travessia: a COVID 19 e os movimentos sociais populares, formada por 8 vídeos de 7 a 10 minutos de duração cada, realizada em 2020, finalizada e apresentada em setembro, e Direitos Humanos e Saúde no Brasil em 2020, formada por 5 vídeos de 8 a 10 minutos de duração cada, realizada em 2021 e em finalização no mês de maio desse ano. A série sobre os movimentos sociais na COVID articula entrevistas com 23 dirigentes de organizações e 5 educadores populares com produções audiovisuais já veiculadas e pesquisadas a partir do trabalho das organizações, resultando em uma montagem que de certo modo exemplifica os próprios modos de organização e comunicação do mundo virtual que estão sendo descritos nos documentários. Pois, assim como as organizações se adaptaram às circunstâncias restritivas da COVID, a produção dos documentários (sobre esse assunto) fez o mesmo. Os web documentários Relatório de Direitos Humanos e Saúde têm algumas diferenças com os primeiros. Na produção nova, além da articulação de 16 entrevistas com representantes de organizações sociais e 3 aulas sobre temas de fundo para a leitura dos problemas abordados, ilustrados também com audiovisuais pesquisados, foram produzidas e gravados, tudo pela internet, registros documentais da vida cotidiana de personagens, montados na narrativa para dar materialidade às questões sociais e humanas abordadas. Ambas as séries são parte de pesquisas do Centro de Educação e Assessoramento Popular, de Passo Fundo/RS, e realizadas por mim, autor do artigo.

As transformações nos modos culturais de existir já vem sendo muito percebidas pois cada vez mais o trânsito de informações passa para o meio virtual e essas experiências foram incorporadas à vida no mundo cujas modulações de espaço e tempo, por isso, já mudaram. No ambiente de intensa multiplicação da produção e consumo de imagens, pois há câmeras em todos os lugares e cinegrafistas e espectadores em cada ser humano portando um celular, a pandemia COVID 19 intensifica as mudanças nas formas de produção e comunicação, sendo o audiovisual, entendido de forma muito ampliada, uma preferência nesse tsunami.

Os documentários informam que nunca as organizações populares trabalharam e conversaram tanto com as suas bases como em 2020, em função da pandemia, utilizando a Internet, porque necessitavam promover ações para combater a fome que atingiu grande parte da população, e para a resistência democrática frente à iminente tomada do poder pelo fascismo. As possiblidades de reuniões virtuais multiplicaram as atividades e construções coletivas. Mesmo com dificuldades, nos documentários estão ativistas socais de lugares distantes, de difícil acesso, cuja participação presencial é muito mais rara e onerosa.

Os web documentários realizados são descritos em suas etapas e métodos de produção, entendidos como formas adaptadas ao tempo de pandemia e virtualização das relações, que potencializam novos usos dos meios nas construções de narravas audiovisuais. Os trabalhos em questão se fundam em pesquisas e utilizações de materiais já midiáticos, decupagem, roteiro e edição que constroem textos ordenando fragmentos de entrevistas, sempre em sentidos abertos. O ambiente é de disputas, dores e incertezas até então desconhecidos, mas as formas de organização social e de produção de narrativas parece que dará conta dos desafios presentes.

Bibliografia

AUGE, Marc. Não-lugares: introdução a uma antropologia da supermodernidade. Campinas, SP: Papirus, 1994.

BAUDRILLARD, Jean. Simulacros e Simulação. Lisboa: Relógio d’Água, 1992.

BORDWELL, David e THOMPSON, Kristin. A Arte do cinema: uma introdução. Campinas: Editora da UNICAMP/Editora da USP, 2013.

DUBOIS, Philippe. Cinema, vídeo, Godard. São Paulo: Cosac Naify, 2004.

GUMBRECHT, Hans Ulrich. Nosso amplo presente, o tempo e a cultura contemporânea. São Paulo, Editora Unesp, 2015.

LEVY, Pierre. O que é o virtual. São Paulo: Ed. 34, 1996.

LYRA, Bernadette. A nave extraviada. SP: ANNABLUME: ECA-USP, 1995.

NICHOLS, Bill. A voz do documentário. In: Pessoa Ramos, Fernão (Org.). Teoria contemporânea do cinema. São Paulo: Editora Senac, 2005 (b).

RAMOS, Fernão pessoa. Mas afinal, o que é mesmo documentário? SP: SENAC, 2008.

















Kommentarer


Destaques:

Posts Recentes

Siga a gente

  • Black Facebook Icon
  • Black YouTube Icon
bottom of page